domingo, 31 de maio de 2015

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Nos últimos dias de maio de 2015, nasceu mais uma ocupação urbana em Belo Horizonte, MG!!!


Nos últimos dias de maio de 2015, nasceu mais uma ocupação urbana em Belo Horizonte, MG!!!

Nos últimos dias de maio de 2015, nasceu mais uma ocupação urbana em Belo Horizonte, MG, com mais de 300 famílias (entre mulheres, crianças e idosos) organizadas pelo MLB (Movimento de luta nos Bairros, Vilas e Favelas) que se encontravam sem moradia, vivendo de favor nas costas de parentes ou sob a escravidão do aluguel. O terreno ocupado, que agora cumpre sua função social, está localizado na região do barreiro, em Belo Horizonte, próximo a Av. Perimetral, próximo das Ocupações Camilo Torres e Irmã Dorothy Stang e próximo à Rua Serra d’água Quente! Todo apoio é necessário e bem-vindo nesse momento!
Venha nos visitar! Compartilhe e participe das 36h de vigília! Mais informações pelos contatos: 031 91330983 / (31) 8868116/ (31) 93204024 
Faceboook: MLB - Minas Gerais
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Nasce uma nova ocupação urbana em Belo Horizonte – Nota pública -
Nos últimos dias de maio de 2015, cerca de 300 famílias, organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam pacificamente um terreno na região do Barreiro, em Belo Horizonte, determinadas a conquistar o direito de moradia digna. Nasce mais uma ocupação urbana.
As famílias que realizaram essa ação sofriam com a falta de um lar para constituírem suas vidas. Essas pessoas são vítimas do déficit habitacional, que já ultrapassa os 5,7 milhões de unidades em todo o país. Apesar de o direito a moradia estar previsto na legislação brasileira e tratados internacionais de direitos humanos, esse dado mostra que grande parte da população sofre com a falta de acesso a residências dignas e a necessidade habitacional das famílias de baixa renda (que vai muito além dos números apresentados pelos governos).
Segundo a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXIII, toda propriedade deve ter uma função social, seja habitacional, ambiental, cultural ou econômica. Terrenos vazios não cumprem sua função social. Ao contrário, incentivam o processo de especulação imobiliária, que eleva o preço dos terrenos, gerando mais lucro para seus proprietários. A ocupação surge como resposta para fazer valer os direitos de acesso ao solo urbano, uma vez que o terreno estava abandonado há muitas décadas e não cumpria sua função social.
O governo do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), que está no poder desde 2008, não se mostra eficaz no cumprimento do direito constitucional à moradia, ao privilegiar o interesse de grandes empreiteiras que buscam lucrar com a produção das unidades habitacionais. Os últimos governos do estado de Minas Gerais também não se comprometeram com o acesso à moradia em Minas Gerais que, segundo dados da Fundação João Pinheiro, ainda tem um déficit de mais de 470 mil moradias.
A alternativa do governo para o fim do déficit habitacional é o programa “Minha Casa, Minha Vida”, repleto de contradições. Apesar de representar um avanço na produção de moradias, o projeto não rompe com os interesses das empreiteiras e dos grandes proprietários de terra e os privilegia, uma vez que contrata empresas privadas para construir apartamentos a preços muito acima dos custos, além de impor às famílias critérios de acesso que excluem grande parte dessa população. Além disso, as unidades habitacionais são construídas com materiais que impossibilitam a adequação do ambiente pelas famílias, que apresentam necessidades habitacionais distintas. E mesmo na modalidade mais avançada do programa, o “Minha Casa, Minha Vida Entidades”, 97% do total aplicado é destinado às construtoras, e apenas 3% aos movimentos sociais e entidades que são habilitados nessa modalidade. Além disso, é imposta uma enorme burocracia para os últimos, tornando muito difícil sua realização.
Ademais, os governos municipal, estadual e federal vêm a partir de 2015 cortando seus orçamentos destinados à construção de moradias populares. O que já era pouco, agora é praticamente nada.
A despeito de todas essas questões, de uma cidade que não é pensada e organizada para a sua população, mas sim para a manutenção do lucro de uma pequena parcela de pessoas, a nova ocupação nasce forte e disposta a resistir. Pouco a pouco, o espaço ganha novos contornos. Onde antes existia entulho, doenças e espaço usado pelo tráfico de drogas, agora existem casas. Onde antes existia vazio, agora existe esperança. Onde antes existia um terreno sem uso, sem vida e sem nenhuma função social, agora existem centenas de famílias buscando o sonho de um futuro melhor.
Morar dignamente é um direito humano!
Reforma urbana popular já!

Assina essa Nota pública:
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB Minas Gerais.

Apoio: Comissão Pastoral da Terra (CPT).

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Por que não é justa e, por isso, inaceitável, a proposta da Construtora Direcional para as famílias da Izidora? Nota Pública.

Por que não é justa e, por isso, inaceitável, a proposta da Construtora Direcional para as famílias da Izidora?
 Nota Pública.

As famílias das ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória e a Rede Verde, junto ao Resiste Izidora e suas redes de apoiadores, realizaram um ato político-cultural na porta da empreiteira Direcional Engenharia, no bairro Santa Efigênia, nesta terça-feira, dia 19 de março, entre as 15h e 22h.
A empresa Direcional Engenharia é responsável pelo prejuízo ao bem estar urbano, entre muitos projetos pelo Brasil afora, devido a duas significativas violações de direitos em Belo Horizonte: a empreiteira é responsável pelo empreendimento imobiliário que insiste em destruir integralmente a Mata do Planalto e pelo mega-empreendimento Minha Casa, Minha Vida, que insiste em executar no terreno onde hoje estão as Ocupações da Izidora, na zona norte de Belo Horizonte, MG.
A Direcional receberá cerca de 750 milhões de reais dos cofres públicos e terá lucros extraordinários a partir da destruição das casas de milhares de famílias que ocuparam, por necessidade, um latifúndio urbano abandonado há mais de 40 anos, ao pressionar o Governo de Minas Gerais pela realização do despejo, de forma violenta e arbitrária. Nesse ano, está pressionando, junto ao Governo do Estado, para que as ocupações aceitem sua proposta de negociação, que é injusta e desfavorável às famílias e significará, em síntese, em um despejo disfarçado.
Conheça melhor a proposta da Construtora Direcional Engenharia e entenda por que ela foi considerada injusta pelas famílias das Ocupações-comunidades Rosa Leão, Esperança e Vitória e, também, pelos Movimentos Sociais Brigadas Populares, MLB e a Comissão Pastoral da Terra.

Proposta da Construtora Direcional: destruir as casas já consolidadas das ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória para construir predinhos de 43,7m² e realocar apenas parte das famílias.

Destruir comunidades consolidadas?
As comunidades Rosa Leão, Esperança e Vitória completam 2 anos de muita vida e resistência. Cerca de 4 mil casas, a maioria de boa qualidade, foram construídas com o trabalho e o dinheiro suado do povo das ocupações. A maioria das famílias ainda está devendo o que investiu no seu sonho. Além de boas casas, as ocupações da Izidora tem uma vida comunitária rica que deve ser reconhecida e respeitada: no terreno, as famílias construíram espaços comunitários, hortas, laços de vizinhança e amizade. 
Ocupação Urbana não é um coletivo de casas, diferentemente do Minha Casa, Minha Vida. Ocupação é um pedaço da cidade autoconstruído a partir das necessidades daqueles que ocupam e que, de maneira coletiva, o transformam em um território repleto de significados e condições econômicas de reprodução. 
A proposta da Construtora Direcional não reconhece esse espaço de vida e significado para a comunidade e, em sua proposta, não cede nem uma migalha: a empresa tem o despejo assegurado, bem como seus lucros: todo o risco e o ônus do reassentamento provisório recai sobre as famílias das ocupações.

Apertamentos de 43,7m² em prédios de 7 a 8 andares sem elevadores?

A 1ª Fase do plano da Direcional é despejar todas as famílias da Ocupação Vitória para, então, construir 8.896 (oito mil oitocentos e noventa e seis) apertamentos de 43,70m² (quarenta e três metros quadrados), em prédios de 5 a 8 andares sem elevadores, sendo que 80 a 90% dos prédios terão entre 7 e 8 andares. Construídos com paredes estruturais, placas de concreto de 2 centímetros, o que torna impossível para as famílias a reforma dos apertamentos.
A solução padronizada do MCMV não se adéqua à diversidade de demandas e necessidades das milhares de famílias que se encontram na Izidora e tampouco representa moradia digna para todos e todas. As famílias numerosas terão que amontoar pessoas em casas de dois pequenos cômodos; famílias que produzem no seu espaço de moradia perderão sua fonte de renda; famílias que tem hortas e criam animais ficarão sem uma alimentação saudável e soberana etc. Não é digno morar em um espaço onde no quarto você tem que escolher entre ter sua cama de casal com seu marido ou o guarda-roupa. E no quarto dos filhos, beliche, pois não caberá duas camas.
Além disso, são conhecidos os problemas do MCMV Brasil afora: apartamentos construídos com materiais de pouca qualidade que estragam rapidamente; inadequação dos espaços para idosos e pessoas portadoras de deficiência; complexos de prédios sem infraestrutura urbana e políticas sociais adequadas, que se convertem em guetos; e ainda muitos casos em que os apertamentos são tomados pelo tráfico e as famílias ficam sem ter onde morar. 
Para a Direcional, contudo, a proposta é excelente. Por cada apertamento a construtora receberá 85.000 (oitenta e cinco mil) reais, sendo 65.000 (sessenta e cinco mil) reais da Caixa/Ministério das Cidades e mais 20.000 (vinte mil) reais da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte)/SEPAC (Secretaria do Programa de Aceleração do Crescimento). Os gastos com a construção do empreendimento não devem ultrapassar 30.000 por unidade. 
Por muito menos, as famílias construíram casas com vários cômodos, com muita qualidade, espaços onde sonharam viver. Se as famílias constroem suas moradias sem custo para o Estado, por que dar milhões de lucro para uma construtora?
Para as famílias numerosas, a Direcional e o Governo de MG propõem de forma vaga o MCMV Entidades com 3 quartos, por meio da venda do terreno da Granja Weneck S.A, em Santa Luzia, para o Ministério das Cidades. O que não falam é que o terreno para construir esses apartamentos é muito pequeno e já se encontra em posse de centenas de famílias. Ou seja, o terreno não será doado, e sim vendido, o que torna a construção do MCMV Entidades inviável economicamente. Não falam, ainda, que não há previsão de recursos da Caixa Econômica Federal para o MCMV Entidades na atualidade, dado que a terceira fase do programa não tem sequer previsão de lançamento. 
Portanto, a proposta de construção de unidades de 3 cômodos via entidades, de fato, NÃO EXISTE. 

Realocar as famílias? Para onde irão os moradores da Vitória enquanto o empreendimento é construído?
A proposta não assegura reassentamento provisório e digno das famílias da ocupação Vitória, enquanto o empreendimento é realizado. Exige a destruição das casas e assegura como contrapartida apenas “tijolos, cimento e areia”, mas não na quantidade investida em 4 mil casas, cerca de 40 milhões de reais. A construtora já disse que não irá pagar pela construção das casas provisórias, o que custaria cerca de 40 milhões de reais. Essa proposta ainda joga no colo das coordenações e movimentos a responsabilidade de colocar as pessoas da Vitória dentro da ocupação Esperança. NÃO CABE e É IMPOSSÍVEL!

Mas e ao final desse tormento todo... todas as famílias que precisam serão contempladas?
A Prefeitura de Belo Horizonte não diz quantas unidades irá destinar para as famílias da Izidora no empreendimento do MCMV e a COHAB (Companhia de Habitação do Estado) e a Direcional querem que aceitemos a proposta no escuro. Não sabemos ao certo quantas famílias da Izidora serão realocadas nos apertamentos, até mesmo porque até agora não foi feito pelo poder público um cadastro idôneo dos moradores. Essa demanda, antiga das coordenações e movimentos sociais, está sendo respondida pelas universidades PUC/MG e UNA, que em incansáveis mutirões nas ocupações, porta a porta, estão fazendo o cadastramento para não deixar ninguém de fora. 
A COHAB diz que dentro da proposta da Direcional serão "contempladas", preferencialmente, as famílias numerosas e disseram que casais sem filhos ou pessoas solteiras serão excluídas. Essas pessoas podem ser despejadas? E os nossos idosos, cujos filhos já cresceram?
Não aceitamos despejo sem alternativa de moradia digna e adequada prévia para todos e todas as pessoas das ocupações que precisam de moradia!

Operação Urbana do Isidoro (O correto é Izidora): quando o público se torna privado.
A Operação Urbana é um mecanismo de flexibilização urbanística neoliberal, nesse caso, sem participação social e sem contrapartidas do setor privado para a cidade. O projeto da Direcional é parte do 3º plano Operação Urbana do Isidoro. O 1º previa lotes de 5.000 m² (cinco mil metros quadrados) para setor de mansões; o 2º, lotes de 1.000 m² (mil metros quadrados) para classe média; e o 3º transformou o projeto em Minha Casa Minha Vida (MCMV) e, por isso, segundo o engenheiro Francisco, a Direcional não tem obrigação de oferecer contrapartida. Se o tronco do projeto está na Operação Urbana, que exige contrapartida, por que um dos seus galhos, o MCMV, desresponsabiliza a empresa de contrapartida? Isso é querer driblar a legislação e a ética.
A Operação Urbana do Isidoro é parte do plano de desenvolvimento da Regional Norte de Belo Horizonte, que tem representado o tormento de milhares de famílias e a festa do capital e dos capitalistas. Os inúmeros viadutos, como o da COWAN que desabou no ano passado, fazem parte desse megaprojeto, assim como o Shopping da Estação, a Catedral de Belo Horizonte - última obra de Niemayer, o Aeroporto de Confins e a Cidade Administrativa. Trata-se de um projeto de valorização imobiliária e de um planejamento excludente, no qual as empresas e os proprietários de latifúndios urbanos improdutivos insistem em lucrar milhões, à custa do despejo de milhares de famílias.

MCMV é um programa para despejar ou para solucionar o problema da moradia?
A Lei Federal que regulamenta o Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) deixa claro que não podem ser realizados empreendimentos habitacionais em áreas já ocupadas. No entanto, a Direcional e a PBH assinaram em 27 de dezembro de 2013 o contrato milionário com a Caixa Econômica Federal para a construção do MCMV na Izidora, quando o terreno já estava ocupado por milhares de famílias. Ora, se a prefeitura nunca teve política habitacional e em 7 anos de gestão Lacerda entregou menos que 1.500 unidades do MCMV para famílias pobres, por que agora quer solucionar o problema do déficit habitacional à custa do despejo das milhares de famílias da Izidora? 
A PBH também mentiu ao dizer à CAIXA que estava negociando alternativas para uma desocupação pacífica. A Prefeitura de Belo Horizonte nunca negociou para encontrar alternativa justa e pacífica, mas somente pressionou para que acontecesse despejo forçado, o que é injusto.
Além disso, é curiosa a relação entre a prefeitura de Belo Horizonte e a construtora Direcional. Do total dos apartamentos em obras, em regime de contratação, a construtora será responsável por 70% dos apartamentos, sendo que para a faixa que concentra o maior déficit habitacional (até R$1.600,00 de renda familiar) esse número chega a 85%.

Qual será a relação entre o Governo e a Direcional?
De acordo com dados do TSE, a Direcional doou 170 mil reais na campanha a governador de Antonio Anastasia, em 2010, e também 80 mil para Aécio Neves, em sua campanha para o Senado. Ricardo Valadares, proprietário da Direcional, doou 140 mil para a campanha de reeleição de Márcio Lacerda. 
No sentido oposto, o projeto da prefeitura de isentar o IPTU para projetos imobiliários, que poderá gerar um rombo de 300 milhões nos cofres da cidade, tem a Direcional como maior beneficiada.

Contra a proposta do Capital, o povo da Izidora, as coordenações, os movimentos sociais, a Rede de Apoio e as universidades estão elaborando uma 2ª contraproposta plural e popular.
Ocupar terrenos abandonados, que não cumprem sua função social, é um direito constitucional garantido. Acima de “ilegais”, as famílias das ocupações Vitória, Esperança e Rosa Leão são CONSTITUCIONAIS, estão lutando para que a Constituição seja posta em prática, constituição que assegura respeito à dignidade humana, função social da propriedade e direito à moradia.
Mesmo estando de acordo com os princípios da Constituição Federal, as ocupações da Izidora entendem a necessidade de uma negociação justa, honesta e digna e participaram nos últimos 2 anos de inúmeras rodadas e mesas de negociação nas quais a Direcional não abriu mão de seus lucros e pressionou pela reintegração de posse das ocupações-comunidades. Entendemos que uma negociação equilibrada é aquela onde todas as partes envolvidas tem que ceder. Em breve apresentaremos nossa 2ª Contraproposta plural e popular.
Belo Horizonte, 19 de maio de 2015.
Assinam essa Nota Pública:
Coordenações das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória,
Brigadas Populares – Minas Gerais,
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG),
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB),

Maiores informações nos blogs das Ocupações, abaixo: www.ocupacaorosaleao.blogspot.com.br



domingo, 17 de maio de 2015

Entenda o Conflito Direcional X Ocupações da Izidora. Subsídio 2.

Entenda o Conflito Direcional X Ocupações da Izidora. Subsídio 2.
Por frei Gilvander Moreira[1]

Para chegarmos, na Mesa de Negociação do Governo de Minas Gerais com as Ocupações Urbanas e do Campo, a uma solução justa e ética, de forma pacífica – único caminho para evitar um massacre de proporções inimagináveis em caso de tentativa de despejo forçado -, para o gravíssimo conflito fundiário e social que envolve milhares de famílias nas Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, na região da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, é preciso considerar vários aspectos que são bases fundamentais e pressupostos para delinearmos uma proposta que seja ética e justa. A proposta apresentada pela Direcional, Governo de MG e PBH não é justa e, por isso, o povo das ocupações da Izidora não a aceitam. Urge considerarmos as perspectivas histórica, ética, religiosa, contratual, cultural, social, jurídica e econômica.
Economicamente, é preciso considerar os valores econômicos do Projeto Minha Casa Minha Vida para a região da Izidora, em Belo Horizonte.
Segundo o Contrato de 19 páginas, de 27 de dezembro de 2013, firmado entre Prefeitura de Belo Horizonte (cedente), Caixa Econômica e empresas Granja Werneck S.A (vendedora), Construtora Bela Cruz empreendimentos Imobiliários Ltda (empresa da Direcional), Direcional Participações Ltda e Direcional Engenharia S.A (Intervenientes garantidoras) – Como é que vários braços da mesma empresa pode ser garantidora? Eu ser fiador de mim mesmo? -, o valor global da operação é R$756.160.000,00 (Setecentos e cinquenta e seis milhões e cento e sessenta mil reais). Esse valor contemplaria compra e venda do imóvel, produção do empreendimento, IPTU, tributos, seguro, despesas de legalização, projeto Trabalho Social e a guarda e conservação do empreendimento.
Aporte da Prefeitura de Belo Horizonte: R$177.920.000,00 (Centro e setenta e sete milhões e novicentos e vinte mil reais);
Valor da compra e venda o imóvel: R$63.0000.000,00 (Sessenta e três milhões de reais.), a ser pago após demonstração da superação de todas as pendências, inclusive entregar o terreno livre – isto é, fazer os despejos dos milhares de famílias que ocupam a área - para construção dos prédios, 90% deles de 7 a 8 andares, sem elevadores, com apertamentos de apenas 43,7 metros quadrados. (Isso segundo informação verbal, pois não tivemos acesso aos projetos ainda. O padrão do Minha Casa Minha Vida, faixa 1, é 39 metros quadrados apenas.)
Valor do Projeto Trabalho Social: R$11.564.800,00 (Onze milhões e quinhentos e sessenta e quatro mil e oitocentos reais), compõe o custo da operação, correspondendo a 2% do valor da aquisição da unidade habitacional e será pago ao executor do Trabalho Social, conforme Portaria do Ministério da Cidade n. 168/2013.
Valor para produção do empreendimento e forma de pagamento: R$681.595.200,00 (Seiscentos e oitenta e um milhões, quinhentos e noventa e cinco mil e duzentos reais), que será pago em parcelas.
Obs.: O valor da produção poderá sofrer alteração para cima ou para baixo. Para isso se celebrará aditivo.
Prazo para conclusão das obras: 24 meses, mas esse prazo poderá ser prorrogado.
 Terreno de 500.294,23 m2 (pouco mais de 50 hectares) da Granja Werneck S.A para construir empreendimento imobiliário denominado Granja Werneck para a produção de 8.896 apartamentos na 1ª fase.
Está permitida a subcontratação de obras e serviços para execução do empreendimento, limitada ao percentual máximo de 30% do valor total da obra para uma mesma empresa. Ou seja, a obra poderá ser toda ela terceirizada entre várias empresas.
Multa em caso de rescisão do contrato: 2% do valor da obra.
Os Apertamentos construídos serão dedicados a famílias com renda familiar de até R$1.600,00 e/ou R$2.790,00 em casos de imóveis vinculados à intervenção do PAC. O que seria essa 2ª opção para famílias com renda familiar de até R$2.790,00? Isso não foi mencionado na Mesa de Negociação, mas está no Contrato da Caixa com a Direcional.
Segundo a cláusula 16ª – Condições Suspensivas – “O referido contrato encontra-se com todos os seus efeitos suspensos até o cumprimento integral de todas as condições estabelecidas, que serão consideradas cumpridas com a manifestação expressa da CAIXA reconhecendo o seu cumprimento.”
A Caixa afirma que o Contrato só terá valor após: a) a comprovação da desocupação do imóvel, processo de reintegração de posse, n. 3135046.44.2013.8.13.0024; b) desmembramento da matrícula 1202 separando a área do Parque e a área objeto de ação de usucapião, sendo que o FAR só irá adquirir a área líquida da Gleba, ou seja, a área da matrícula 1202 descontada a área que será desmembrada; c) comprovação da destinação do aporte da PBH, de 177 milhões.
Financeiramente para a empresa/construtora Direcional, é preciso considerar que o terreno foi comprado por 63 milhões de reais. Logo, por cada apertamento, pelo terreno, a Direcional pagará somente R$5.762,89 pela aquisição do terreno. O MST para construir casa nos assentamentos de reforma agrária, pelo Minha Casa Minha Vida, recebe apenas R$28.500,00 do Governo Federal, via Caixa. As 20 famílias do Assentamento Pastorinhas, do MST, em Brumadinho, receberam apenas R$9.700,00 e acrescentaram mais uns R$5.000,00 e fizeram casas muito boas no assentamento. Se a Direcional vai receber R$65.000,00 ou R$72.000,00 – no MCMV n. 3 - por cada apertamento construído e vai receber por cada apertamento outros R$20.000,00 da Prefeitura de BH, via SEPAC, conforme nos informou o engenheiro da Direcional, queremos saber qual vai ser o lucro da empresa. O engenheiro da Direcional disse que lucro é segredo. Será R$40.000,00 por cada apertamento? Será 40.000,00 vezes 10.932 apartamentos = R$ 437.800.000,00? Isso apenas nas duas primeiras fases do projeto. É ético obter esse lucro, mais de R$437 milhões, a custa de derrubar mais de 4.000 casas de alvenaria que custaram em média R$10.000,00 cada uma e no total, cerca de R$40.0000.000,00, sendo que as famílias estão devendo a metade, cerca de 20.000.000,00 para pagar mensalmente de 3 a 5 anos?
Belo Horizonte, MG, Brasil, 17 de maio de 2015.



[1] Padre assessor da Comissão Pastoral da Terra, doutorando em Educação pela FAE/UFMG. gilvanderlm@gmail.comwww.freigilvander.blogspot.com.brwww.gilvander.org.br

Ocupações da Izidora/BH: Defensoria Pública, Resposta a reportagem e Rec...

Defensoria Pública de MG nas Ocupações da Izidora também por direito ao ...

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Ocupações da Izidora, em Belo Horizonte, MG: Barril de pólvora ou comuni...

Reportagem da TV Record calunia, difama e criminaliza as Ocupações da Izidora. Nota Pública.

Reportagem da TV Record calunia, difama e criminaliza as Ocupações da Izidora. Nota Pública.

Ontem, dia 14/05/2015, reportagem da TV Record, lamentavelmente, caluniou, difamou e criminalizou o povo das Ocupações da Izidora, Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória, cerca de 8.000 famílias. E pior, pavimenta e estimula a realização de despejos forçados, o que pode causar a maior violação de direitos da história de MG.
O título da reportagem - Caos em Ocupação: “terra sem lei” - é uma grande mentira que atiça a violência do Estado sobre milhares de famílias trabalhadoras que estão de forma justa e legítima lutando para se libertar da pesadíssima cruz do aluguel e conquistar moradia digna. É mentira dizer que em quase dois anos a PM está proibida de entrar nas Ocupações da Izidora, porque há barricadas etc. As barricadas só foram feitas em agosto de 2014 quando havia fortíssima pressão para realizar os despejos. Logo após retomarmos as negociações sob a liderança do Ministério Público, em setembro de 2014, as barricadas foram desfeitas.
Mas é preciso entender o contexto que levou à recolocação das barricadas apenas em um dia, retiradas depois, na data 11/05/2015. Na Mesa de Negociação e Diálogo os empresários (o capital) propõem e o Governo de MG e PBH pressionam: é aceitar a proposta da Direcional ou despejo! Diante do maior conflito fundiário do Brasil, que envolve milhares de famílias das 3 ocupações da região da Izidora, a latifundiária família Werneck, a Construtora Direcional e o Governo de Minas têm jogado sujo. Ao contrário do que disse a matéria, a PM entrou nas comunidades, causando constrangimento e medo, com carro de som escoltado pela PM, dia 11 de maio de 2015, e ainda distribuindo panfletos, dia 05/05/2015, que buscam enganar as famílias. Com essa propaganda querem impor uma única solução para o conflito: a proposta das empresas, que significa o investimento público (dinheiro nosso) no despejo das comunidades e na construção do megaempreendimento do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com a garantia do máximo de lucros, mais de 400 milhões de reais para a Direcional.
Criado após a crise internacional de 2008, o MCMV, maior programa habitacional do país, deveria ser motivo de orgulho pra toda população. Porém, lamentavelmente, o MCMV tem produzido pelo Brasil afora empreendimentos de milhares de unidades, sem qualidade e sem infraestrutura urbana adequada, que só alimentam os bolsos das construtoras. Cerca de 70% dos recursos do Programa, nas duas primeiras fases, beneficiaram 10 consórcios de empresas, entre elas a Direcional que, aliás, é uma das maiores financiadoras de campanhas eleitorais do país.
Por que a Imprensa não divulga esse contexto mais profundo?
Logo, foi para se defender que o povo recolocou as barricadas dia 11/05/2015. Exceto os momentos de tensão para se realizar os despejos, a PM teve sempre acesso totalmente livre às Ocupações nestes dois anos de história e luta. Ainda não podemos negar o acesso do braço armado do Estado às nossas comunidades, enquanto não desenvolvemos nossos sistemas de segurança comunitária e popular, também dependemos do trabalho da polícia e ela, nesse tempo todo, teve livre acesso em nossas comunidades, ainda em que suas ações fossem repletas de desrespeito, arbitrariedades e violências injustas e indiscriminadas contra nossas famílias.
A reportagem ouviu um comerciante sentindo-se ameaçado por alguém que ele diz estar nas ocupações, mas a visão predominante entre os comerciantes e moradores da região é de apoio às ocupações. Reconhecem que o povo ocupou os terrenos abandonados por necessidade, porque estavam sem-casa e têm direito de lutar para conquistar moradia própria e digna. Essa é a visão predominante na região. Logo, pegar um caso e generalizar é agredir a dignidade de milhares de pessoas que vivem nas ocupações e são pessoas trabalhadoras: domésticas, vigias, serventes, pedreiros, taxistas, secretárias etc, normalmente, profissões manuais, que são imprescindíveis no funcionamento da cidade. Se a força de trabalho dos milhares de famílias é querida pelo mercado e pela sociedade, por que a dignidade desse povo não pode ser respeitada?
As ocupações não são terra sem lei. São territórios-comunidades em franco processo de consolidação, com regimento interno com uma série de regras a serem seguidas, com coordenação, assembleias de organização interna semanais como o repórter comenta e admite, com índices de violência muito baixos em comparação a maioria dos demais bairros “formais” (reconhecido inclusive pela própria PM) e, acima de tudo, com luta coletiva para que um direito constitucional, que é o de morar dignamente, seja conquistado. As Ocupações são territórios constitucionais e como tais são acompanhados por movimentos sociais como as Brigadas Populares e o MLB e também acompanhados pela Comissão Pastoral da Terra da Igreja Católica.
Já fizemos várias reuniões com comandantes da PM buscando diálogo e exigindo que a PM cumpra sua missão de promover a segurança pública no interior das ocupações, mas sem pisar na dignidade de pessoas trabalhadoras, discriminando-as, desrespeitando-as e violando seus direitos, tal como recorrentemente ocorre. É preciso que o Estado e a Polícia Militar compreendam que as famílias ocupantes são cidadãs e seus membros sujeitos de direitos e devem ser tratados como tal.
Ouvir um policial e generalizar como se ele representasse toda a PM também é injustiça, pois criminaliza milhares de pessoas ao generalizar casos particulares, que são exceções e não a regra. Há muitos policiais que reconhecem a justeza da luta do povo das ocupações. As ocupações não são perfeitas, mas não é justo julgar o povo pelas exceções que não são regras. A regra é que nas ocupações estão pessoas trabalhadoras, honestas e lutadoras por seus direitos. Pessoas que cometem atos ilícitos há em todos os setores da sociedade, por exemplo, entre 20 mil pessoas no Brasil que tem foro privilegiado, o que é uma excrescência, é cuspir no rosto dos pobres. Ou há cerca de pouco mais de um ano a sociedade mineira não foi testemunha de um caso de tráfico internacional de drogas, realizado com suporte de recursos de nossa própria assembleia estadual - o caso popularmente conhecido como Helicóptero do Pó, cujo o principal suspeito, ex-deputado de Minas Gerais, está sendo absurdamente inocentado por nossas instituições corrompidas?
Enfim, a questão que envolve as Ocupações da Izidora é uma questão social que jamais se resolverá de forma justa e pacífica com polícia e com repressão. Por que uma reportagem que dá mais voz a um policial que tem preconceito contra o povo das ocupações e a um comerciante que não representa a maioria dos comerciantes? Por que não ouvir mais os moradores e a vizinhança que apoia as ocupações? É evidente e transborda aos olhos dos telespectadores e cidadãos mineiros a ausência total de ética, transparência e compromisso com a verdade da rede de Televisão Record. É lamentável que nossa sociedade não se revolte contra meios de comunicação que prestam mais bem um desserviço à humanidade, à sensatez, à justiça e à paz.
Repudiamos esse tipo de reportagem, porque fomenta e alimenta a orquestração para se tentar despejar de forma forçada, o que poderá causar um massacre sem precedentes em Minas Gerais.

Belo Horizonte, 15 de maio de 2015.

Assinam essa Nota Pública:
Coordenações das Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória.
Brigadas Populares – Minas Gerais
Comissão Pastoral da Terra (CPT-MG)
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Maiores informações nos blogs das Ocupações, abaixo:


Nossos direitos vêm...” Pátria Livre! Venceremos!

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Ocupações da Izidora, terra banhada com sangue de mártir, uma questão religiosa também. Por frei Gilvander Luís Moreira.

 Ocupações da Izidora, terra banhada com sangue de mártir, uma questão religiosa também.
Por frei Gilvander Luís Moreira.


Na região da Izidora, cerca de mil hectares (= 10 milhões de metros quadrados), na zona Norte de Belo Horizonte, MG, divisa com Santa Luzia, nas Ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória – estima-se cerca de 8 mil famílias -, além de um dos maiores conflitos fundiários e sociais do país, estabeleceu-se uma questão religiosa eloquente que precisa ser levada a sério. Manoel Ramos de Souza, carinhosamente chamado de Manoel Bahia, 27 anos, coordenador da Ocupação Vitória, dia 31 de março de 2015, em plena semana santa, por volta das 15:00 horas – mesmo horário em que Jesus Cristo foi crucificado -, foi covardemente assassinado por grileiros de lotes vagos, justamente para impedir que aproveitadores se apropriem da terra.
O povo das Ocupações da Izidora ficou revoltado e indignado com o assassinato de Manoel Bahia. Ainda bem que ao chegarmos com o corpo de Manoel Bahia na casa onde ele nasceu na periferia da cidade de Paulo Afonso, Bahia, sua mamãe, dona Zinha – Maria da Paixão -, mulher de uma fé inabalável, uma autêntica missionária do Evangelho de Jesus Cristo, veio nos abraçar e logo dizer: “Eu já perdoei os assassinos. Rezarei por eles todos os dias. Manoel é outro Chico Mendes, outra Irmã Dorothy. Não é por acaso que ele se chama Manoel, Deus conosco. Se algum dia eu encontrar com os assassinos, direi a eles: “Vocês não sabiam o que estavam fazendo. Eu já perdoei vocês.”
Temos a convicção de que Manoel Bahia não somente morreu, mas se multiplicou e estará sempre presente em todos nós, sempre na luta. Celebramos três missas de 7º dia, uma na Ocupação Vitória, outra na ocupação Rosa Leão e outra na Ocupação Esperança, ocasiões em que recordamos o que fez e o que nos ensinou Manoel Bahia nestes quase dois anos de convivência com ele na Ocupação Vitória. Fizemos também um momento celebrativo, no local onde ele tombou lutando, durante o levantamento de uma grande cruz em sua homenagem, onde construiremos um Memorial de Manoel Bahia, uma igreja e uma praça. Ali firmamos o compromisso de honrarmos o nome de Manoel Bahia. Todos dizem: “Não foi em vão o sangue de Manoel Bahia derramado por nós. Ele doou a vida por nós. Nunca abriremos mão dessa terra prometida por Deus a nós e agora banhada com sangue de mártir.” Espontaneamente, as pessoas das Ocupações da Izidora começaram a dizer: “Em terra banhada com sangue de mártir não pode haver despejo.” Essa intuição profunda guiará todos e todas na continuidade da luta por um direito fundamental, que é o direito a moradia digna.
Nascido em 03 de abril de 1988, Manoel Bahia, uma das pessoas mais humanas que já conheci. Idôneo, honesto, um herói, um guerreiro, um mártir da luta por moradia própria, digna e adequada. Tornou-se um militante das Brigadas Populares com sede e fome de justiça. Nas manifestações, Manoel Bahia sempre carregava a bandeira das Brigadas Populares. Um lutador incansável na defesa das famílias injustiçadas. Manoel, que significa Deus no nosso meio, tinha uma fé inabalável no Deus da vida, fé herdada de sua mãe, dona Zinha.
Um irmão dele nos disse: “o defeito de Manoel era o fato de desde pequeno não aceitar nada de errado e sempre querer ajudar os outros. Quando via algo errado, logo se posicionava e alertava: “Isso está errado!” Desde pequeno, Manoel era solidário com todos.” Sempre de braços abertos, sorriso largo e olhar penetrante, Manoel Bahia cativava muita gente. Chegou de mansinho na Ocupação Vitória, mas logo na primeira luta coletiva em que participou bloqueando o trânsito diante da prefeitura de Belo Horizonte na Av. Afonso Pena, ao ver um exagero de policiais, ele nos disse posteriormente: “Naquele momento em que a polícia tentava impedir nossa manifestação, tomei a decisão de nunca desistir da luta. Vi que aquilo era injustiça e a gente estava ali lutando por nossos direitos.”
Ao voltar daquela manifestação, em uma Assembleia Geral da comunidade Vitória, Manoel Bahia, no microfone, testemunhou a importância da luta realizada e convidou a todos/as a nunca desistir da luta. “Temos direitos. Morar dignamente é nosso direito. Vamos conquistar isso na luta. Ninguém vai nos parar. Nem a tropa de choque. Nem ninguém. Eu me comovo ao ver senhoras idosas e crianças sem-casa, vivendo a humilhação que é estar debaixo da cruz do aluguel. Podem me perseguir, mas eu nunca vou abandonar meus irmãos. Eu nunca vou desistir da luta. Bora lá lutar sempre até a vitória”, bradou na praça da Maravilha, local de Assembleias Gerais da Ocupação Vitória.
Nos dias de manifestações, Manoel Bahia levantava de madrugada e saía pela Ocupação Vitória gritando: “Bora lá pra luta!” O entusiasmo dele reunia muita gente. Gritava o dia inteiro a ponto de à noite, após as manifestações, estar quase sem voz. Chamava muitas pessoas de compadre ou comadre. Era padrinho de Douglas, que sente muito sua partida. Ao chegar à casa da sua companheira namorada dizia: “Não tive tempo de avisar que traria companheiros para almoçar. Se não tiver almoço para todos, dê o que tiver para meus companheiros.” Fabiana diz sempre: “Manoel Bahia era uma pessoa extraordinariamente humana. Se ele visse uma pessoa sem camisa, ele tirava a própria camisa e doava.”
Por essa postura ética e de compromisso com a luta coletiva, Manoel Bahia foi convidado para integrar a Coordenação da Ocupação Vitória e em menos de dois anos cresceu muito como liderança popular, conquistou o carinho, o respeito e a admiração do povo das Ocupações Vitória, Rosa Leão e Esperança e, por participar de todas as lutas das Ocupações urbanas de Belo Horizonte e Região metropolitana de BH, tornou-se uma referência nas lutas por moradia. Sempre animado e animando todos/as a lutar destemidamente pelo direito à moradia e por todos os direitos fundamentais.
Pelo assassinato de Manoel Bahia há muitos culpados, diretos e indiretos. Dois irmãos, um sobrinho e uma tia foram indiciados no inquérito criminal como responsáveis diretos. Um já está preso. Mas há vários culpados indiretos: a) a Granja Werneck S.A que deixou o terreno abandonado, sem cumprir a função social; b) O Estado, através da prefeitura, Governo estadual e Federal, que não faz uma política habitacional capaz de oferecer para toda família uma moradia digna. Como Estado, o TJMG que, sem audiência para tentativa de conciliação, sem ouvir o Ministério Público e a Defensoria Pública, concedeu liminares de reintegração de posse sem considerar o gravíssimo problema social instalado na Izidora; c) A grande imprensa, que, muitas vezes, fez reportagens mentirosas, caluniosas e difamando o povo trabalhador que está nas ocupações lutando por um direito fundamental, que é o de morar dignamente.
Enfim, COMPANHEIRO BAHIA, SEMPRE PRESENTE, EM NÓS, NA LUTA! Você não morreu, se multiplicou. Você não foi sepultado, mas semeado na terra da Ocupação Vitória e na terra baiana de Paulo Afonso ao lado do Velho Chico.
Esperamos e lutaremos para que o Estado respeite a terra banhada com sangue de mártir e que não faça despejo forçado nas Ocupações da Izidora. Respeitar como? Fazendo justiça maior: desapropriar os territórios hoje ocupados por milhares de famílias das Ocupações Vitória, Rosa Leão e Esperança. A luta agora está mais forte, porque somos todos Manoel Bahia. Ele vive em plenitude e em nós na luta até depois da vitória.
Abaixo, links de vídeos no youtube com/sobre Manoel Bahia:
1)   Homenagem a Manoel Ramos, o Bahia.
2)   Tributo a Manoel Bahia, mártir da luta por moradia digna e adequada.
3)   Tributo 2 a Manoel Bahia, mártir da luta por moradia: o povo fala.
4)   Palavra Ética na TVC/BH: o povo fala sobre Manoel Bahia, mártir da Ocupação Vitória.
5)   Palavra Ética na TVC/BH: Tributo a Manoel Bahia.
6)   Manoel Bahia, da Ocupação Vitória, em BH, conta como atua policiais em MG.
7)   Manoel Bahia, da Ocupação Vitória, em BH, foi preso por tentar socorrer um irmão agredido por policiais.
8)   Ocupação Vitória, Belo Horizonte, MG: cruz do mártir Manoel Bahia e entrada da ocupação.
9)   Afonso Henrique, procurador do Ministério Público de MG: a terra onde tombou Manoel Bahia é das ocupações.
10)          Manoel Bahia, da Ocupação Vitória, em Belo Horizonte, MG: em terra com sangue de mártir não se faz despejo.
Obs.: Os vídeos, acima, referidos com/sobre o Manoel Bahia também estão disponibilizados nos facebooks da Ocupação Vitória e outras 10 ocupações de BH e RMBH, em muitos blogs, entre os quais: www.ocupacaovitoria.blogspot.com.br  , www.freigilvander.blogspot.com.br

Belo Horizonte, MG, 14 de maio de 2015.