"Minha querida Serro" - Poesia de Maria Aparecida C. Simões contra mineração no Serro, MG - 22/5/2019 - Vídeo 7.
Em Serro, MG, após participar de Audiência Pública realizada no dia 21/5/2019, pela Comissão de Direitos Humanos da ALGM, frei Gilvander teve a alegria de conversar com Maria Aparecida Cardoso Simões, no dia 22/5/2019, e registrar em vídeo linda poesia dessa moradora nascida em Serro, ativista na luta contra a mineração no município. O poema “Minha queida Serro” que brotou de dentro de Maria Aparecida na noite escura que se seguiu à reunião do CODEMA, dia 17/4/2019, que deliberou pró instalação da mineradora Herculano no município do Serro. Eis, abaixo, a poesia, recitada pela poetisa no vídeo. MINHA QUERIDA SERRO! Perdão, minha querida Serro. CODEMA fez o seu papel. (Qual é mesmo seu papel?) Ao final de cada dia, como sempre faço, assim registrei em meu diário: 17/04/2019. O dia amanheceu triste, chuvoso lamurioso. Eu, com um aperto no peito, ouvi bem próximo o canto da acauã, ave agourenta, com um presságio. Meu pai, o que será? Ao final do dia, lá na praça central, em frente à Prefeitura e à Câmara, ao ver o rosto de N. Sra. das Dores, com uma lágrima a rolar, ao ver seu filho sob a cruz, entendi. Hoje, você chora, minha querida Serro. Te apunhalaram pelas costas. Eu sei, justo numa quarta-feira das dores. Assim como Jesus pressentiu a traição e chorou. Terra querida … rasgarão tuas entranhas, te farão sangrar. Justo você, minha querida Serro, tão doce e hospitaleira. A quantos você acolheu. Quantos aqui fincaram raízes, cresceram, floresceram e produziram frutos! Houve comemoração, risos fartos, mas só quem é apaixonado por ti, mãe, chorou. Obrigada, minha querida Serro, por me ensinar a amá-la, por ensinar minha família a amá-la tanto. A biologia nos ensina sobre os biomas, os ecossistemas, a fauna, a flora e as águas. Ah! As águas. … Mas é preciso ter sensibilidade, para perceber que há magia em tudo isso. E ser muito grato a você, meu Pai, por esses regatos a cantarolar, essas cachoeiras a lavar a alma, esse verde e esses lagos que produzem a bruma fresca da madrugada. Obrigada, minha querida Serro. Eu me reverencio a você, mãe terra, e imploro seu perdão, pois não fomos fortes o bastante para lhe defender. Obrigada, minha querida Serro, pois aqui nasci. Corri descalça por essas ladeiras a brincar. Um futuro triste se abre para mim. Como numa sexta-feira da paixão, quando Jesus foi traído, crucificado e morto pela humanidade. Dá-nos forças para continuar a lutar por ti. Muitos que não te amam, após colherem os frutos, arrancarem suas riquezas, alçarão voo. mas haverá o tempo em que diante de ti, meu Pai celestial, prestarão contas. Ai de ti! Hoje aprendi: acauã não é ave agourenta. Seu canto triste é o choro de um triste presságio.
*Filmagem de frei Gilvander, da CPT, das CEBs e do CEBI. Edição de Nádia Oliveira, colaboradora da CPT-MG. Serro, MG, 22/5/2019.
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