Se não reduzir a mineração no quadrilátero aquífero, BH e RMBH ficarão sem água – Por frei Gilvander Moreira[1]
Com o avanço brutal da
mineração no Quadrilátero Aquífero e Ferrífero de Belo Horizonte (BH) e Região
Metropolitana (RMBH), se a mineração não for reduzida para o mínimo necessário,
os quase 6 milhões de pessoas de BH e RMBH ficarão sem água, sem agricultura
famíliar, sem ambiente, enfim, sem condições objetivas de vida, será a
desertificação da região. Só não percebe isto quem está cegado pela ideologia
da mineriodependência, do progressismo e pela idolatria do mercado, ou é de
má-fé ou egocêntrico, está ganhando dinheiro fazendo funcionar a máquina de
guerra da mineração que gera acumulação de capital para 1% da sociedade e
miséria e violência socioambiental para 99% do povo e toda a biodiversidade. Os
sinais e as provas são inúmeros. Não há só fumaça, mas fogo mesmo. Vamos
mencionar alguns abaixo.
Assim como a cidade de
Itabira, em Minas Gerais, após mais de 80 anos de mineração devastadora, está
praticamente dentro de crateras da mineradora Vale S/A e ostentando o triste título
de uma das cidades do Brasil com maior número de suicídio e de pessoas com
depressão – “Itabira, apenas um quadro na
parede”, denunciava o poeta Drummond -, as 34 cidades da RMBH, em visão
panorâmica aérea, parecem estar cada vez mais encurraladas por crateras de
mineração com danos socioambientais brutais. Pior: está aumentando de forma
estarrecedora o número de novos projetos de mineração na RMBH. São dezenas. Em
BH, se não fosse a luta hercúlea do Quilombo Manzo e de muitos movimentos
socioambientais, a situação seria bem mais grave, pois as mineradoras insistem
em liquidar com o pouco de Serra do Curral que ainda resiste.
As 17 audiências do Plano de
Desenvolvimento Integrado da RMBH (PDDI-RMBH), em agosto de 2023, demonstraram
que as 34 cidades da RMBH estão em acelerado processo de conurbação, ou seja, é
exorbitante o número de novos loteamentos e a expansão da maioria das cidades
da RMBH. As áreas rurais estão sendo ocupadas por novos bairros, loteamentos e
ocupações irregulares. Foi denunciado com ênfase que a causa maior da escassez
hídrica e da desigualdade em BH e RMBH se deve à hegemonia das mineradoras que
estão causando brutais devastações socioambientais e impondo a
mineriodependência de forma atroz. O povo de Brumadinho está adoecido. A Fiocruz
comprovou a existência de metais pesados no sangue de muita gente de Brumadinho.
O número de suicídio está crescendo.
O projeto do desgovernador de
Minas Gerais, Romeu Zema, de construir um “Rodoanel” na RMBH é inadmissível,
porque será na prática um rodominério, ou seja, infraestrutura para as
mineradoras continuarem expandindo a mineração na RMBH, o que é insuportável.
Em nome dos direitos da natureza e dos direitos das próximas gerações, ético se
faz implementar mineração zero em BH e RMBH, mas o Governo de MG, sob os ditames
da extrema direita e vassalo do neocolonialismo capitalista, segue em conluio
com as grandes mineradoras e as grandes empresas asfixiando as condições de
vida de quase 6 milhões de habitantes e de bilhões de seres vivos que têm direito de viver na
RMBH. A toque de caixa, a SUPRI[2]
e a Câmara de Atividades Minerária do COPAM[3],
como uma casa de horrores, aprova todos os grandes projetos de mineração ao
arrepio dos estudos imparciais que demonstram que serão brutalmente danosos ao
ambiente e à sociedade.
No último dia 19 de outubro
(de 2023), aconteceu na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na
Comissão de Meio Ambiente, a 2ª Audiência Pública buscando garantir a
preservação da Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito, MG, e reivindicando o
arquivamento do Projeto de Lei 387/23, que visa mudar o perímetro da Estação
Ecológica de Aredes para que a mineradora Minar volte a minerar no coração da
Estação Ecológica de AREDES. Reivindicamos que a Comissão de Meio Ambiente dê
parecer pró-arquivamento do PL 387. Em um país com relações sociais injustas, o
simples fato de requentar este famigerado PL pela 3ª vez nas três últimas
legislaturas, seria o suficiente para indiciar como criminosos os que defendem
este crime planejado e anunciado.
Os donos da mineradora Minar e
seu séquito de “técnicos” preferiram não participar da 2ª Audiência Pública,
certamente porque na 1ª Audiência Pública e na Visita Técnica na Estação
Ecológica de Aredes passaram vexame e vergonha ao terem todos seus pretensos
argumentos desmascarados como infundados e propaganda mentirosa. Não foram
trazidas também as pessoas manipuladas que lotaram um ônibus da 1ª vez, pago por
adeptos da mineradora Minar, sem saber o que fariam na ALMG, vieram apenas para
receber salário de uma pessoa escravizada por dia, para marcar presença e vaiar
quem defendia AREDES. Triste ver pessoas vulneráveis sendo usadas por
exploradores que vendem a propaganda de que “mineração traz emprego e
desenvolvimento”. Mentira! Quando uma mineradora emprega alguém desemprega em
massa, pois asfixia outros modelos de economia e gera a danosa
mineriodependência.
Na 2ª Audiência Pública vieram
representantes da SEMAD[4],
do IEPHA[5]
e um diretor de Parques responsável por cuidar de AREDES. Não disseram coisa
com coisa, se esquivaram de se posicionar sobre o PL 387 que, se aprovado,
devastará a Estação Ecológica de AREDES, mas com evasivas deram a entender que
o posicionamento do desgoverno de MG é pró-PL 387, o que significa o governo de
MG de joelhos diante do lobby para minerar e devastar AREDES. Prova disso é que
o autor do PL 387/23 é o deputado João Magalhães (do MDB), líder do Zema na
ALMG.
Estarrecedor é que o PL 387 já
tenha sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da ALMG com apenas
arremedo de estudos feitos pela própria mineradora Minar, que contratou
consultores sem conteúdo, que não conhecem o contexto ambiental, hídrico e
patrimonial de Aredes. Como uma serpente e em silêncio, os ‘representantes’ da mineradora
MINAR mudaram agora a estratégia, mas continuam a fazer lobby junto às
Comissões da ALMG e junto à SEMAD do Governo Zema, haja vista o comportamento
dos representantes do Estado (SEMAD, IEF e IEPHA) que foram de corpo presente à
Audiência Pública, mas devem ter sido adestrados para não falar nada contra o famigerado
PL, tendo em vista o aparelhamento da atual gestão do Governo de Minas Gerais com
os interesses da mineração e do capital. Vergonhoso o despreparo técnico dos
representantes do governo estadual que ali compareceram. O Ministério Público de
Minas Gerais já expediu Recomendação advogando o arquivamento do PL 387 por ser
profundamente danoso aos interesses da Estação Ecológica de Aredes e sem
consistência técnica alguma, confirmando as denúncias da população e a Nota Técnica
realizada pelos pesquisadores que atuam na região e entregue para as deputadas
estaduais Bella Gonçalves (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT).
A Estação Ecológica de Aredes
foi criada em 2010 por causa da luta justa para se salvar um pouco dos brutais
danos que a própria mineradora Minar tinha causada em Aredes. Foi preciso uma
Ação Civil Pública para exigir que se salvasse AREDES, porque a mineradora Minar
tinha deixado três crateras e até hoje ainda tem passivo (danos) ambiental
produzido por ela em Aredes. Ou seja, a Minar cometeu muitas infrações e
irregularidades, violentou Aredes, de forma impiedosa. Não tem nenhuma moral
para tentar voltar a praticar mais crimes em AREDES. Absurdo também é o fato do
“PL 387” para minerar em Aredes, arquivado nas últimas duas legislaturas, estar
sendo requentado pela 3ª vez.
São muitos os “capitães do
mato” que defendem e fazem lobby pela aprovação do PL 387/23 na ALMG para a
mineradora Minar voltar a cometer outros crimes socioambientais, históricos,
arqueológicos e culturais na Estação Ecológica de Aredes, mas eles evitam
mostrar a cara, pois é motivo de grande vergonha defender uma atrocidade como
esta. Eis algumas, abaixo.
O município de Itabirito vem
sendo sacrificado pela mineração há mais de 300 anos; primeiro, mineração de ouro,
e nas últimas décadas, de ferro. Com altitude de 1.586 metros, o Pico
Itabirito, com tombamento estadual e definido como Patrimônio Natural, segundo
a Constituição de Minas Gerais, desde 1989, está há várias décadas como “Jesus
na Cruz”, dilacerado, com todo o seu entorno carcomido, sua base e com seus pés
roídos pela mineração que não respeita nada. Pico do Itabirito, crucificado
pelas mineradoras, está exposto em uma sexta-feira da paixão sem fim que as
mineradoras com o apoio do Estado vem impondo diariamente.
Nos últimos anos, a mineradora
Vale fez uma “muralha da China” em Itabirito para conter o tsunami de rejeitos
minerários das barragens de Forquilha I, II, III, IV e V, a 11 Km de distância no
vizinho município de Ouro Preto. Trata-se de uma muralha de concreto compactado
que, segundo a Vale S/A, custou 1,2 bilhão de reais, com mais 350 metros de
extensão de uma montanha a outra, com 30 metros de espessura e 94 metros de
altura. Esta megaobra já impactou o singelo São Gonçalo do Bação e sua população.
Aredes é um extraordinário
sítio arqueológico, onde existiu a Fazenda Aredes, marco zero do povoamento no
munícipio de Itabirito, com testemunhos arqueológicos exuberantes, conforme
muito bem demonstrado em uma robusta obra literária organizada pela pesquisadora
Alenice Baeta intitulado: “Aredes – Recuperação Ambiental e Valorização de um
Sítio Histórico e Arqueológico, publicada em 2016.
A mineradora Minar insiste em
minerar mais uma montanha em Aredes de campos ferruginosos e de vegetação rupestre
com espécies endêmicas, ou seja, que só existem ali e em mais nenhum lugar do
mundo. Estes campos rupestres de Aredes irrigam os Córregos Silva e Aredes, que
se tornam o Córrego Mata-Porcos que, ao desaguar no rio Itabirito, lhe
acrescenta 40% de água de classe especial, o que garante o abastecimento
público da cidade de Itabirito. E o rio Itabirito, ao se encontrar com o rio
das Velhas, tem praticamente o tamanho e o volume de água do rio das Velhas,
que, na capitação de Bela Fama, em Nova Lima, oferece cerca de 50% do
abastecimento público de BH e RMBH. Ou seja, minerar mais em Aredes irá secar
os córregos Silva e Aredes, o que inviabilizará o abastecimento público das
cidades de Itabirito, BH e RMBH.
Além da Mineradora Minar, em
Itabirito, há outros quatro brutais
projetos de mineração insistindo para cravar suas garras nas poucas montanhas
que resistem: a) Em São Gonçalo do Bação estão insistindo em construir mais um
Terminal de carregamento de minério de ferro, sinal de que, segundo o prefeito
de Itabirito, “a mineradora Vale tem projetos para mais 150 anos de mineração
na região”; b) Entre Aredes e São
Gonçalo do Bação está iniciando outro projeto de mineração na belíssima Serra
do Lessa, que pretende explorar 110 milhões de metros cúbicos de minério por
ano em uma montanha da localidade, por 40 anos, com cerca de 650 carretas por
dia transitando, o que deixará uma cratera de 130 metros de profundidade; c)
Tem também projeto minerário da Várzea do Lopes Leste, da Gerdau; d) E a empresa
Monteminas Minérios, do projeto de mineração Água Brava ao lado da Serra do
Lessa. São Gonçalo do Bação está sendo
circundado e sufocado por estas obras e minerações, sendo que se trata de um
distrito munido de um vulnerável e rico conjunto arquitetônico, arqueológico e
paisagístico composto por bens culturais variados, com clara vocação para o
turismo cultural, artístico e ambiental de base comunitária.
Portanto, em respeito às próximas
gerações, faz-se necessário arquivar o PL 387 na ALMG, nunca mais requentá-lo e
reduzir muito a mineração na região do Quadrilátero Aquífero e Ferrífero de BH
e RMBH. Eis o caminho para a vida saudável!
24/10/2023.
Obs.: As videorreportagens nos links, abaixo, versam
sobre o assunto tratado, acima.
1 - Aprovar PL 387/23
na ALMG p mineradora Minar minerar dentro da Estação Ecológica será absurdo
brutal
2 - Alenice Baeta: Aula
Magna! Necessidade de preservar a Estação Ecológica de AREDES. Repúdio ao PL
387
3 - Jeanine:
Preservemos a Estação Ecológica de AREDES e o Monumento Natural da Serra da
Moeda, JÁ!
4 - Dep. Bella: “PL
387/23 não pode ser aprovado na ALMG. Preservemos a Estação Ecológica de
AREDES, MG
5 - Dep. Beatriz:
"E a posição da SEMAD e do ZEMA sobre a Estação Ecológica de AREDES, em
Itabirito/MG?"
6 - Edton: Minerar na
Estação Ecológica de AREDES, Itabirito/MG, vai deixar Itabirito, BH, RMBH sem
água
7 - Luiz, do MAM: Zema
em conluio c mineradoras. Preservar Estação Ecológica de AREDES p garantir
água..
8 - Capitães do mato
insistem em continuar escravizando povos/ambiente, agora tb. c PL 387/23 na
ALMG
9 - Thomás Toledo:
Prefeito e vereadores de Itabiritos/MG, cúmplices da mineriodependência. Viva
AREDES!
10 - Frei Gilvander e
Dep. Bella pedem arquivamento do PL 387 na ALMG, que visa minerar em AREDES, MG
11 - Mineradora Minar
quer devastar AREDES, nascedouro de Itabirito/MG, com PL 387/23 que visa
minerar
12 - Visita Técnica a AREDES
conclui q PL 387/23 deve ser arquivado. Estação Ecológica em Itabirito/MG
13 - Minar diz q
minerar em AREDES afetará ruínas e fontes d’água. Dep. Bella e frei Gilvander:
arquive!
14 - Não há como
minerar na Estação Ecológica de AREDES sem devastar sítio histórico e acabar
com águas
15 - Se calarmos,
montanhas gritarão! Minar deixa 3 crateras, passivo ambiental e invade AREDES c
PLACA
16 - Crateras deixadas
pela Minar foram convertidas ambientalmente: Estação Ecológica
AREDES/Itabirito/MG
17 - Visita Técnica de
deputados/a à Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG. Arquive o PL
387/23!
18 - Peça de Teatro
sobre História de AREDES, Itabirito/MG: Arquive PL 387/23 que visa minerar em
AREDES!
19 - Trabalho
arqueológico na Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG: Arquive o PL
387/23 na ALMG!
20 - Exposição AREDES
na Estação Ecológica de AREDES, Itabirito/MG: Arquive o PL 387/23, que visa
minerar
21 - No interior de uma
das ruínas da Estação Ecológica de AREDES, em Itabirito/MG: Arquive o PL
387/23!
[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela
FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia
pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em
Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de
“Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte,
MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br
– www.twitter.com/gilvanderluis –
Facebook: Gilvander Moreira III
[2] Superintendência de Projetos
Prioritários da Secretaria de Desenvolvimento Social e do Conselho de Política
Ambiental do estado de Minas Gerais.
[3] Conselho de Política Ambiental do
estado de Minas Gerais.
[4] Secretaria de Desenvolvimento
Sustentável do estado de Minas Gerais, responsável para avaliar os projetos de
mineração.
[5] Instituto estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico do estado de Minas Gerais.
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